sexta-feira, 29 de abril de 2011

Palavras Vazias

Numa de desconversar
Venha a nós a confissão!
Terão de me desculpar
Mas há aqui um senão
Que se silencie a bancada
O pano desvenda seus mistérios

Acto primeiro de espectáculo terceiro
"Não há nestas terras,
Terceira idade que te tolere meu rapaz!"
(Pavoneia-se a protagonista)
"Entre curvas e trapos,
De linhas não trato!
Não sou alfaiate, que desonra"
(Volta costas a bufar desprezo)

É então que surge nova personagem
Sem rodeios caminha das sombras
Clamando Pessoa com precisão
"Come chocolates, pequena; come chocolates"
O público inerte pelo choque renasce
(Ultrajados pela rudez dos versos,
Trocam impressões toscas de ignorância feroz)
"Ora viva, quem passeia sempre alcança"
(Nem se dá ao trabalho de encarar a voz da Verdade)
"Entramos numa fase de adivinhas?"
(Nunca a confusão fora tanta)
A voz ignorada e fora de contexto,
Desvanece na plena posse da insignificância
Não é de todo gentil passar por outrem Reis...
Tormentas ainda Lídia?

A restante peça é de lamentar
Que no passado fique a fermentar!
Histérico num frenesim
As palavras multiplicam-se
Destes bordões de tinta
Retiro proveito algum!
Palavras ocas deixando transpirar
O preenchimento da alma

Dois corpos suados unem-se
Não se tocam simplesmente...
Unem-se e faz o coração palpitar
O vagabundo incauto,
O desgraçado só queria atravessar a estrada
Recuperando a esperança há muito esquecida
Deu novo significado à sua vida e seguiu contente
Que faziam os enamoradas deitados?
Procriavam felicidade!
Complementavam o trabalho de Cupido e Deus
Múltiplas investidas e lá vai mais uma
De reflexão feita só restam sexo e medo
Macabro como se completam, não?

Cercado pela multidão
Incapaz de compreender
O meio envolvente comprime-se
Um aperto no peito
O sufoco da auto-infligido ódio
Três tresloucadas vivas ao mártir!
Encorajar não é entender, talvez
Talvez nem seja nada por crer
É algo de quem nada tem de fazer...
As acções são tomadas
A história desenrola-se
O climáx surge, ó! Êxtase,
Dois corpos suados lado a lado
Uma só gota se desfaz em duas,
De amor saciadas quebrem o elo
Salutar a lucidez incrível
Com que chegamos à promiscuidade?

Vaza e drena-se o perfume
O aroma desfalece queimado
Abusado e violentado pela calúnia
O Fedor invade o espírito
Porque ninguém se importa

Dar significado ao comum
Primeira contradição
Épicos ecos de resolução
Promessas, juras e tretas
Alimenta a terra que contaminas
Deves isso tudo e pouco menos

Portugal permite-me estas andanças
Concede-me só mais esta dança
Ardente marca de exclusão
Expulso do recantos as caldas diabólicas
Só o vislumbrou de sangue me arrepia
Me faz tremer e cair sobre os joelhos
Forçado a pecar novamente leva-to-te a mão
Subjugo-te a minha vontade e mordo
A criatura anciã tomou forma

Confuso e desorientado
Cercado por faces passivas
Rostos contendo ainda o terror
O horror e o temor de nova tortura
Calafrios do áspero toque...
"Quem me toma as medidas por detrás?
Quem se esconde no meu ângulo morto!"
(Só um idiota responderia ao óbvio)

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